1. |
Frio em Agosto
02:44
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Tu acordaste e reparaste que deixaste
de ser um desastre e com isso muita gente
quis ver-te em baixo ou fazer-se ao teu tacho
ou forçar um encaixe em duas peças diferentes.
Sempre foste habitante do oposto,
a fraqueza, a doença, o alvo do gozo.
O interesse em pessoa ignorado pois o rosto,
ao ser fosco, não deixava ver com transparência.
E sofrias com isso. Sentias que o edificio, por ser diferente por fora e por dentro,
não se enquadrava nesse quarteirão de cópias sem fundações resistentes.
E agora vê-las a ruir uma a uma ou a ficar
esquecidas ou emparedadas, enquanto aumentas um andar.
Sê o bicho com mau gosto,
o frio em Agosto,
o rio que se pôs a subir.
É engraçado como somos todos cegos
... ou nos fazemos de cegos.
Tememos relações frágeis, relaçoes instáveis,
mas só nos encostámos às fáceis...
Até que depois já não há cola que chegue pra consertar corações.
Ou mais linha para costas tapadas com mil custuras
e os ouvidos ficam cheios de mentiras e juras...
No fim quase não sabes com quem contar
pra te apoiar, guiar nesse pomar de sonhos.
E é aí que decides passar a morar sozinho nesse pomar
sob ninhos que vão voar pra longe.
E um dia quando tu voltares, findado o amor com todos esses ares,
vais ver que encorajaste bailes que deram mais desses pares.
Por isso não pares de ser
o bicho com mau gosto,
o frio em Agosto,
o rio que se pôs a subir.
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2. |
Frustrados
03:09
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Sou o filho,
sou o neto,
sou o esperto que prefere um futuro incerto,
sou o esperto que não bebe desse danoninho.
Devo ser adotado por ter adotado um fado
que para alguns é um mundo encantado
onde eu partilho o meu prato com ratos!
Um fado onde eu estou condenado ao nado
num lago gelado de arame farpado com um braço ocupado
tentando salvar o que sobra deste meu legado.
Sou dado como maluco porque refuto o rumo das coisas.
Querem-me adulto? Eu quero-me um puto sem medo de folhas!
E eu acho rude chamarem-nos sanguessugas
quando nós somos quem vos dá sabor à vida
nem se discute...
Dizem que somos todos marados,
dizem que somos todos falhados,
dizem que somos pobres coitados.
Dizem tudo de nós mas não passam de frustrados!
coitados....
E se eu pintar o céu de verde é porque eu vejo o meu céu verde!
Vocês dizem que o céu é azul? Eu vejo o vosso negro!
Eu acho qué um bocado cedo só pra ver o óbvio...
"Mas tu tens cento e seis anos!"
ya é cedo...
Parem de querer meter o dedo naquilo que eu ergo, eu não sou um servo
da vossa vontade, da vossa visão! Nessa jaula eu não me meto!
E não tenho medo que não percebam nada daquilo que eu concebo...
o mais provável é que isso aconteça apenas quando um gajo virar um esqueleto...
quando eu virar um esqueleto...
Dirão que trouxe inovoção, a expressão duma geração,
terei toda a exposição que não tive antes do caixão.
Agora não falta cachet, vê só a licitação!
Vê só o champanhe! vê-me bem o prato de camarão!
MÃE!
daqui é o teu filho a falar do além.
Bem que a bola de cristal disse que eu ia acabar mal...
Sem saúde, amarelo, sem futuro, sem pastel,
num sono de cianeto enforcado na torre Eiffel!
MÃE!
desculpa-me por todo o teu sofrimento!
Fui casmurro a mil por cento mas não consegui ficar
refém duma sociedade sem ponta de coragem...
e que desencoraja quem escapa da sua caixa!
Dizem que somos todos marados,
dizem que somos todos falhados,
dizem que somos pobres coitados.
Dizem tudo de nós mas não passam de frustrados!
coitados....
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3. |
Às Voltas
02:51
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Dou voltas na cama.
Por mais que feche a pestana parece que o sono não me ama...
Talvez isto seja karma.
Quis tanto despertar,
agora fico desperto na cama.
Dou voltas na cama
amassado pelo mundo que no ano passado queria revolta,
queria de volta um parente emigrado...
e agora só quer ver lá fora um povo refugiado.
Dou voltas na cama.
A chama cartesiana crepita por trás da cana do meu nariz e forja filigranas insanas...
mas sem camisola vestida
não há mangas para arregaçar,
logo esqueço o que teço
e tento ver se adormeço.
Dou voltas na cama.
Por mais que feche a pestana parece que o sono não me ama...
Talvez isto seja karma.
Quis tanto despertar,
agora fico desperto na cama.
Dou voltas na cama assustado.
Rolam sombras do terceiro mundo pelo meu quarto!
Por um segundo achei que fosse um monstro
...e era de facto...
Era o monstro que alimento com aquilo que tenho comprado.
Dou voltas na cama.
A chama cartesiana crepita por trás da cana do meu nariz e forja filigranas insanas...
Que se foda a camisola!
A almofada é o teu caderno
por isso escreve...
escreve!
Quieto na cama.
Consegui adormecer.
Escrever
não é só ver o mal,
é vê-lo sem pêlo,
ridículo
e sem vida pela frente.
Escrever
é ver o mal,
foder-lhe a boca,
seguir em frente.
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4. |
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Nascido em abril de noventa e quatro
De punho no ar como em abril de setenta e quatro
Espírito de thoreau, espírito de viriato
Inconformado nato vindo do meio do mato
Não sou fã de casamentos arranjados...
Eu e a mordaça não damos pa casados
Língua anti pimenta, pra mim não há emenda:
Piças pra quem a nossa apatia alimenta.
Sinto que anda tudo como a cabeça do sô Cavaco:
cheio de vácuo, covarde, encovado.
Tudo alienado a ver merdas passar ao lado,
tudo focado a comprar o que não foi comprado.
Esse mundo de chicago boys tem de ter um fim
chega de morder anzóis e de mídia mainstream.
Sacode a areia dos olhos e começa a olhar,
podes não ser quem dispara mas também estás a matar.
Pára de continuar a achar
Que não podes mudar
O mundo onde estás
Todos podemos dar
Parte do nosso tempo
Da nossa energia
Hey! Punhos no ar!
Eu vim aqui para fazer música lúdica,
Lúcida, música para bater
Nesse cacho de fachos, música para fazer
Com que o diacho dos tachos ponham as ruas a viver.
Somos o sal! siga unir-nos pra dar um final
a este filme de terror em que o mal é colonial
corporativista, classista, ocidental,
especicista, racista, misógino, patriarcal
Vivas a quem vive sem dar vida ao lenço branco
na cara não há vergonha há apenas um lenço preto
pode vir a moina tentar dispersar o bando
mas tal como na Fontinha o povo regressa sem medo
em resistência e em desobediência
consciente de que é precisa paciência
até que a vista possa alncançar a existência
da justiça, do bem, dum mundo livre de violência
Pára de continuar a achar
Que não podes mudar
O mundo onde estás
Todos podemos dar
Parte do nosso tempo
Da nossa energia
Hey! Punhos no ar!
Hey, eu sei que tu
Pensas que é inútil
Desperdiçar tempo
com lutas perdidas
vês no homem o problema,
vês tudo comprometido,
por esse cancro desenvolvido.
Já estás de luto vestido
Entregue ao lado inimigo
Convencido que no futuro haverá uma
máquina do tempo para reparar os erros
O futuro só é negro se fechas os olhos
Ou se te traancas no medo presente
Mano tu podes ser a máquina do tempo
Cria portais que mostrem futuros diferentes
Pára de continuar a achar
Que não podes mudar
O mundo onde estás
Todos podemos dar
Parte do nosso tempo
Da nossa energia
Hey! Punhos no ar!
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5. |
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(Riça)
Tantos a dizer que estão a inovar...
Eu devo ser o único que anda a "bittar", meu...
Eu imito os "deuses" sempre com postura de ateu.
Correcto ou não foi assim que todo o génio aprendeu --
do Leonardo ao Picasso, do Rakim ao Eminem,
sente o bafo do trabalho (não, não há dom nos genes).
Há dor e amor e, com bom ou mau humor,
se queres ser professor tens de viver a compôr!
Encerra-te na prisão onde tens liberdade!
...erra/repete/erra, Não fiques já fatigado!
Mantem-te motivado mesmo que tenhas falhado!
(na verdade o sucesso vai ser uma raridade...)
Não sejas o típico tipo do tipo D.Caio
que se diz forte mas perante provas tem medo do malho.
Escreves odes com motes fiéis ao que tens vivido.
Sê humilde e honesto e...pronto!
És bem sucedido!
Não, não és alguém quando crias há pouco tempo.
Também não o és quando crias há muito tempo...
Ama e dedica tempo de investimento
e tira prazer da criação no momento!
(Kass)
Como um monge escriva só paro quando a tinta acabar
Toda a folha escorre tinta as brancas não têm lugar
Cada uma é singular tenho uma fila aumentar
Sem produção de fábrica só pra te formatar
Surrealismo à procura de um sentido
Daqui ou Dali da droga ou do comprimido
A vitamina vem de mim estimula-me o ouvido
Sem imitar respeito todo o génio que admiro
E pra cultura PA?! Honestidade primeiro
Então procura lá! Ver as pessoas do teu meio
Ze Povinho sem tirantes sou do povo à verdadeiro
Não queiras ser como alguém se não fores alguém primeiro
Vai de coice, vai de foice à procura da inspira
São necessárias mais horas então transpira
São imagens improvisos rimas construção
O prazer do caminho e o percurso da criação
Não, não és alguém quando crias há pouco tempo.
Também não o és quando crias há muito tempo...
Ama e dedica tempo de investimento
e tira prazer da criação no momento!
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6. |
Azeitonas (Skit)
01:26
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7. |
É Lá Na Bouça (com Kass)
04:07
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Alevanta esse cu e abre bem essas orelhas
Vou-te mostrar o mundo onde os gunas têm ovelhas
Vou-te levar tão fundo, ao underground da minha aldeia
Q'até vai ser moda usar jugo e monocelha
Aqui a juventude dá no fumo às escondidas
Atrás do campo da escola ou no meio das vinhas a dividir picas
Um, critica o Porto. Outro, critica o benfica
E alguns pelo meio falam da filha da dona Maria...
Podíamos correr no meio deste descampado mas
Corremos o risco de calcar um capote de gaita usado
Por isse botó tasco, é mesmo aqui ao lado,
Basta seguir o rasto a mata-bicho e o cheiro a porco no churrasco.
São naturais as rotinas matinais aqui,
A suar cueca de tanta sueca jogar,
A partir pulso em torneios de matraquilho e a
Falar dos cornos do vizinho que já nem o andarilho consegue suportar!
Eis a terra onde cresci
A terra do meu enredo
Se um dia vieres aqui
Só vais ver azul e verde
Vais perceber quando digo
Q'isto aqui não tem um preço
A bouça é o meu sítio
A bouça é o meu berço!
(ya, chama-lhe bite...)
Lá vai o neto do sôr Adão
Joga na terceira divisão
Tem caparro de capão e quebra qualquer campeão
Sempre a arranjar confusão
Vi-o este São João
Sem carta e sem travão na Sachs em fuga ao batalhão!
A GêNêRê vê-se negra com esta gente
Peões no meio da rotunda, benha de lá o agente!
A coisa fica feia facilmente e de repente
Noventa e nove estrunfos em esteróides levam tudo à frente!
Bota fogo e farturas, começa a romaria!
'Gusto Canário deixa malucas as mulheres da freguesia
E os candidatos à junta juntam-se à folia
Oferecem bonés e canetas e beijos, eletrodomésticos sem garantia...
Armistício entre grupos de gandinos Na
pista dos carrinhos de choque mas cheira-me a sarilhos
Nisto um maçarico manda uma bisga rente à vista dum dos mitras
E dá-se o apocalipse...
KASS
Oh meu amigo Riça tu não sabes quem manda
Andastes na faculdade e pensas que és o maior de Gandra
Atão escuta bem vou-te cantar uma cançoum
Devias ir pra DJ pra ne botares aqui a moum
Tás armado em quê? Também es da terriola.
Moras no fundo da rua o meu filho andou contigo na 'scola
E não levantes cabelo senão cai-te uma tchapada
Vens paqui com puntx puntx PA com raps e não dizes nada?
Canta-me a desgarrada, Maria ta calada
E pega masé na inchada porque hoje vai haver batatada
Pega no bagaço e faz te um home já que o teu pai não foi
Queres arranjar trabalho compra uns cornos e vai pa boi!
Eis a terra onde cresci
A terra do meu enredo
Se um dia vieres aqui
Só vais ver azul e verde
Vais perceber quando digo
Q'isto aqui não tem um preço
A bouça é o meu sítio
A bouça é o meu berço!
(ya, chama-lhe bite...)
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8. |
Monolito
03:53
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Encontraste um caderno gasto no meio do tasco
Perdido porém erguido pelo seu próprio pé
Claro que achaste estranha tal proeza
Mas mal tocaste nele ficaste coa cabeça em puré
Qual purex para te deixar assim filhote
Nem sexo sem latéx tu, ficaste lerdo
Incontinente a ponto d'agora andares com dodotes
Num loop eterno e doentio como o Preço Certo.
Ficaste caído no chão, tod'em contorção,
Berrand'em repetição "ATIREM-ME À CREMAÇÃO!"
Deixaste o teu povo de tal modo assustado
Que agora és visitado por exorcistas de todo o lado!
REFRÃO
Se o vires por aí
Pensa duas vezes antes de o desfolhares E
Começares a ler
Pode ser mau para ti
Por isso meu amigo não toques no monolito em que eu andei a escrever
BRIDGE
(mas siga ver em detalhe por onde é que o nosso amigo riça andou naquela fatídica tarde
após aquele estranho contacto imediato com aquele caderno)
Foste sugado num portal espaço-temporal,
A retrete onde eu grego galáxias
Deu-t'uma epifania onde viste que as Sete
Maravilhas mundiais pra mim são coisas de criança
Viste-m'a produzir um Big Bang
pra seduzir a vizinha a partilharmos fantasias.
Viste-nos enrolados
no meu bilhar de buracos negros a conceber mais um Messias.
A criação do fogo foi fruto dum sopro
Que dei no meu caderno enquanto anotava ideias
E mal um símio lhe tocou como tu fizeste
Degolou o irmão e fez-se o primeiro mural rupestre
REFRÃO
Se o vires por aí
Pensa duas vezes antes de o desfolhares E
Começares a ler
Pode ser mau para ti
Por isso meu amigo não toques no monolito em que eu andei a escrever
Pus em prática a alquimia para te dar um desfecho
Eras uma besta quadrada, multipliquei por seis
Ficaste um cubo estúpido, mas como isto é à Kubrick,
transformei-te num Hipercubo -- agora és hiperburro, parabéns!
Passei parte de ti do estado sólido a líquido
Misturei-te com radiação do sol e lítio
Pós da Nuvem d'Oort, rodelas de Lorth Sith
e reservei a bebida numa jarra no frigorífico
Criativo espontâneo como sou saquei-te logo o esqueleto
Transformei-te o crâneo numa base para sabonetes
Engordei-te a ranho e febres até morreres
Para depois te assar e te servir aos teus parentes!
REFRÃO
Se o vires por aí
Pensa duas vezes antes de o desfolhares E
Começares a ler
Pode ser mau para ti
Por isso meu amigo não toques no monolito em que eu andei a escrever
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