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Bicho Com Mau Gosto

by Riça

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1.
Tu acordaste e reparaste que deixaste de ser um desastre e com isso muita gente quis ver-te em baixo ou fazer-se ao teu tacho ou forçar um encaixe em duas peças diferentes. Sempre foste habitante do oposto, a fraqueza, a doença, o alvo do gozo. O interesse em pessoa ignorado pois o rosto, ao ser fosco, não deixava ver com transparência. E sofrias com isso. Sentias que o edificio, por ser diferente por fora e por dentro, não se enquadrava nesse quarteirão de cópias sem fundações resistentes. E agora vê-las a ruir uma a uma ou a ficar esquecidas ou emparedadas, enquanto aumentas um andar. Sê o bicho com mau gosto, o frio em Agosto, o rio que se pôs a subir. É engraçado como somos todos cegos ... ou nos fazemos de cegos. Tememos relações frágeis, relaçoes instáveis, mas só nos encostámos às fáceis... Até que depois já não há cola que chegue pra consertar corações. Ou mais linha para costas tapadas com mil custuras e os ouvidos ficam cheios de mentiras e juras... No fim quase não sabes com quem contar pra te apoiar, guiar nesse pomar de sonhos. E é aí que decides passar a morar sozinho nesse pomar sob ninhos que vão voar pra longe. E um dia quando tu voltares, findado o amor com todos esses ares, vais ver que encorajaste bailes que deram mais desses pares. Por isso não pares de ser o bicho com mau gosto, o frio em Agosto, o rio que se pôs a subir.
2.
Frustrados 03:09
Sou o filho, sou o neto, sou o esperto que prefere um futuro incerto, sou o esperto que não bebe desse danoninho. Devo ser adotado por ter adotado um fado que para alguns é um mundo encantado onde eu partilho o meu prato com ratos! Um fado onde eu estou condenado ao nado num lago gelado de arame farpado com um braço ocupado tentando salvar o que sobra deste meu legado. Sou dado como maluco porque refuto o rumo das coisas. Querem-me adulto? Eu quero-me um puto sem medo de folhas! E eu acho rude chamarem-nos sanguessugas quando nós somos quem vos dá sabor à vida nem se discute... Dizem que somos todos marados, dizem que somos todos falhados, dizem que somos pobres coitados. Dizem tudo de nós mas não passam de frustrados! coitados.... E se eu pintar o céu de verde é porque eu vejo o meu céu verde! Vocês dizem que o céu é azul? Eu vejo o vosso negro! Eu acho qué um bocado cedo só pra ver o óbvio... "Mas tu tens cento e seis anos!" ya é cedo... Parem de querer meter o dedo naquilo que eu ergo, eu não sou um servo da vossa vontade, da vossa visão! Nessa jaula eu não me meto! E não tenho medo que não percebam nada daquilo que eu concebo... o mais provável é que isso aconteça apenas quando um gajo virar um esqueleto... quando eu virar um esqueleto... Dirão que trouxe inovoção, a expressão duma geração, terei toda a exposição que não tive antes do caixão. Agora não falta cachet, vê só a licitação! Vê só o champanhe! vê-me bem o prato de camarão! MÃE! daqui é o teu filho a falar do além. Bem que a bola de cristal disse que eu ia acabar mal... Sem saúde, amarelo, sem futuro, sem pastel, num sono de cianeto enforcado na torre Eiffel! MÃE! desculpa-me por todo o teu sofrimento! Fui casmurro a mil por cento mas não consegui ficar refém duma sociedade sem ponta de coragem... e que desencoraja quem escapa da sua caixa! Dizem que somos todos marados, dizem que somos todos falhados, dizem que somos pobres coitados. Dizem tudo de nós mas não passam de frustrados! coitados....
3.
Às Voltas 02:51
Dou voltas na cama. Por mais que feche a pestana parece que o sono não me ama... Talvez isto seja karma. Quis tanto despertar, agora fico desperto na cama. Dou voltas na cama amassado pelo mundo que no ano passado queria revolta, queria de volta um parente emigrado... e agora só quer ver lá fora um povo refugiado. Dou voltas na cama. A chama cartesiana crepita por trás da cana do meu nariz e forja filigranas insanas... mas sem camisola vestida não há mangas para arregaçar, logo esqueço o que teço e tento ver se adormeço. Dou voltas na cama. Por mais que feche a pestana parece que o sono não me ama... Talvez isto seja karma. Quis tanto despertar, agora fico desperto na cama. Dou voltas na cama assustado. Rolam sombras do terceiro mundo pelo meu quarto! Por um segundo achei que fosse um monstro ...e era de facto... Era o monstro que alimento com aquilo que tenho comprado. Dou voltas na cama. A chama cartesiana crepita por trás da cana do meu nariz e forja filigranas insanas... Que se foda a camisola! A almofada é o teu caderno por isso escreve... escreve! Quieto na cama. Consegui adormecer. Escrever não é só ver o mal, é vê-lo sem pêlo, ridículo e sem vida pela frente. Escrever é ver o mal, foder-lhe a boca, seguir em frente.
4.
Nascido em abril de noventa e quatro De punho no ar como em abril de setenta e quatro Espírito de thoreau, espírito de viriato Inconformado nato vindo do meio do mato Não sou fã de casamentos arranjados... Eu e a mordaça não damos pa casados Língua anti pimenta, pra mim não há emenda: Piças pra quem a nossa apatia alimenta. Sinto que anda tudo como a cabeça do sô Cavaco: cheio de vácuo, covarde, encovado. Tudo alienado a ver merdas passar ao lado, tudo focado a comprar o que não foi comprado. Esse mundo de chicago boys tem de ter um fim chega de morder anzóis e de mídia mainstream. Sacode a areia dos olhos e começa a olhar, podes não ser quem dispara mas também estás a matar. Pára de continuar a achar Que não podes mudar O mundo onde estás Todos podemos dar Parte do nosso tempo Da nossa energia Hey! Punhos no ar! Eu vim aqui para fazer música lúdica, Lúcida, música para bater Nesse cacho de fachos, música para fazer Com que o diacho dos tachos ponham as ruas a viver. Somos o sal! siga unir-nos pra dar um final a este filme de terror em que o mal é colonial corporativista, classista, ocidental, especicista, racista, misógino, patriarcal Vivas a quem vive sem dar vida ao lenço branco na cara não há vergonha há apenas um lenço preto pode vir a moina tentar dispersar o bando mas tal como na Fontinha o povo regressa sem medo em resistência e em desobediência consciente de que é precisa paciência até que a vista possa alncançar a existência da justiça, do bem, dum mundo livre de violência Pára de continuar a achar Que não podes mudar O mundo onde estás Todos podemos dar Parte do nosso tempo Da nossa energia Hey! Punhos no ar! Hey, eu sei que tu Pensas que é inútil Desperdiçar tempo com lutas perdidas vês no homem o problema, vês tudo comprometido, por esse cancro desenvolvido. Já estás de luto vestido Entregue ao lado inimigo Convencido que no futuro haverá uma máquina do tempo para reparar os erros O futuro só é negro se fechas os olhos Ou se te traancas no medo presente Mano tu podes ser a máquina do tempo Cria portais que mostrem futuros diferentes Pára de continuar a achar Que não podes mudar O mundo onde estás Todos podemos dar Parte do nosso tempo Da nossa energia Hey! Punhos no ar!
5.
(Riça) Tantos a dizer que estão a inovar... Eu devo ser o único que anda a "bittar", meu... Eu imito os "deuses" sempre com postura de ateu. Correcto ou não foi assim que todo o génio aprendeu -- do Leonardo ao Picasso, do Rakim ao Eminem, sente o bafo do trabalho (não, não há dom nos genes). Há dor e amor e, com bom ou mau humor, se queres ser professor tens de viver a compôr! Encerra-te na prisão onde tens liberdade! ...erra/repete/erra, Não fiques já fatigado! Mantem-te motivado mesmo que tenhas falhado! (na verdade o sucesso vai ser uma raridade...) Não sejas o típico tipo do tipo D.Caio que se diz forte mas perante provas tem medo do malho. Escreves odes com motes fiéis ao que tens vivido. Sê humilde e honesto e...pronto! És bem sucedido! Não, não és alguém quando crias há pouco tempo. Também não o és quando crias há muito tempo... Ama e dedica tempo de investimento e tira prazer da criação no momento! (Kass) Como um monge escriva só paro quando a tinta acabar Toda a folha escorre tinta as brancas não têm lugar Cada uma é singular tenho uma fila aumentar Sem produção de fábrica só pra te formatar Surrealismo à procura de um sentido Daqui ou Dali da droga ou do comprimido A vitamina vem de mim estimula-me o ouvido Sem imitar respeito todo o génio que admiro E pra cultura PA?! Honestidade primeiro Então procura lá! Ver as pessoas do teu meio Ze Povinho sem tirantes sou do povo à verdadeiro Não queiras ser como alguém se não fores alguém primeiro Vai de coice, vai de foice à procura da inspira São necessárias mais horas então transpira São imagens improvisos rimas construção O prazer do caminho e o percurso da criação Não, não és alguém quando crias há pouco tempo. Também não o és quando crias há muito tempo... Ama e dedica tempo de investimento e tira prazer da criação no momento!
6.
7.
Alevanta esse cu e abre bem essas orelhas Vou-te mostrar o mundo onde os gunas têm ovelhas Vou-te levar tão fundo, ao underground da minha aldeia Q'até vai ser moda usar jugo e monocelha Aqui a juventude dá no fumo às escondidas Atrás do campo da escola ou no meio das vinhas a dividir picas Um, critica o Porto. Outro, critica o benfica E alguns pelo meio falam da filha da dona Maria... Podíamos correr no meio deste descampado mas Corremos o risco de calcar um capote de gaita usado Por isse botó tasco, é mesmo aqui ao lado, Basta seguir o rasto a mata-bicho e o cheiro a porco no churrasco. São naturais as rotinas matinais aqui, A suar cueca de tanta sueca jogar, A partir pulso em torneios de matraquilho e a Falar dos cornos do vizinho que já nem o andarilho consegue suportar! Eis a terra onde cresci A terra do meu enredo Se um dia vieres aqui Só vais ver azul e verde Vais perceber quando digo Q'isto aqui não tem um preço A bouça é o meu sítio A bouça é o meu berço! (ya, chama-lhe bite...) Lá vai o neto do sôr Adão Joga na terceira divisão Tem caparro de capão e quebra qualquer campeão Sempre a arranjar confusão Vi-o este São João Sem carta e sem travão na Sachs em fuga ao batalhão! A GêNêRê vê-se negra com esta gente Peões no meio da rotunda, benha de lá o agente! A coisa fica feia facilmente e de repente Noventa e nove estrunfos em esteróides levam tudo à frente! Bota fogo e farturas, começa a romaria! 'Gusto Canário deixa malucas as mulheres da freguesia E os candidatos à junta juntam-se à folia Oferecem bonés e canetas e beijos, eletrodomésticos sem garantia... Armistício entre grupos de gandinos Na pista dos carrinhos de choque mas cheira-me a sarilhos Nisto um maçarico manda uma bisga rente à vista dum dos mitras E dá-se o apocalipse... KASS Oh meu amigo Riça tu não sabes quem manda Andastes na faculdade e pensas que és o maior de Gandra Atão escuta bem vou-te cantar uma cançoum Devias ir pra DJ pra ne botares aqui a moum Tás armado em quê? Também es da terriola. Moras no fundo da rua o meu filho andou contigo na 'scola E não levantes cabelo senão cai-te uma tchapada Vens paqui com puntx puntx PA com raps e não dizes nada? Canta-me a desgarrada, Maria ta calada E pega masé na inchada porque hoje vai haver batatada Pega no bagaço e faz te um home já que o teu pai não foi Queres arranjar trabalho compra uns cornos e vai pa boi! Eis a terra onde cresci A terra do meu enredo Se um dia vieres aqui Só vais ver azul e verde Vais perceber quando digo Q'isto aqui não tem um preço A bouça é o meu sítio A bouça é o meu berço! (ya, chama-lhe bite...)
8.
Monolito 03:53
Encontraste um caderno gasto no meio do tasco Perdido porém erguido pelo seu próprio pé Claro que achaste estranha tal proeza Mas mal tocaste nele ficaste coa cabeça em puré Qual purex para te deixar assim filhote Nem sexo sem latéx tu, ficaste lerdo Incontinente a ponto d'agora andares com dodotes Num loop eterno e doentio como o Preço Certo. Ficaste caído no chão, tod'em contorção, Berrand'em repetição "ATIREM-ME À CREMAÇÃO!" Deixaste o teu povo de tal modo assustado Que agora és visitado por exorcistas de todo o lado! REFRÃO Se o vires por aí Pensa duas vezes antes de o desfolhares E Começares a ler Pode ser mau para ti Por isso meu amigo não toques no monolito em que eu andei a escrever BRIDGE (mas siga ver em detalhe por onde é que o nosso amigo riça andou naquela fatídica tarde após aquele estranho contacto imediato com aquele caderno) Foste sugado num portal espaço-temporal, A retrete onde eu grego galáxias Deu-t'uma epifania onde viste que as Sete Maravilhas mundiais pra mim são coisas de criança Viste-m'a produzir um Big Bang pra seduzir a vizinha a partilharmos fantasias. Viste-nos enrolados no meu bilhar de buracos negros a conceber mais um Messias. A criação do fogo foi fruto dum sopro Que dei no meu caderno enquanto anotava ideias E mal um símio lhe tocou como tu fizeste Degolou o irmão e fez-se o primeiro mural rupestre REFRÃO Se o vires por aí Pensa duas vezes antes de o desfolhares E Começares a ler Pode ser mau para ti Por isso meu amigo não toques no monolito em que eu andei a escrever Pus em prática a alquimia para te dar um desfecho Eras uma besta quadrada, multipliquei por seis Ficaste um cubo estúpido, mas como isto é à Kubrick, transformei-te num Hipercubo -- agora és hiperburro, parabéns! Passei parte de ti do estado sólido a líquido Misturei-te com radiação do sol e lítio Pós da Nuvem d'Oort, rodelas de Lorth Sith e reservei a bebida numa jarra no frigorífico Criativo espontâneo como sou saquei-te logo o esqueleto Transformei-te o crâneo numa base para sabonetes Engordei-te a ranho e febres até morreres Para depois te assar e te servir aos teus parentes! REFRÃO Se o vires por aí Pensa duas vezes antes de o desfolhares E Começares a ler Pode ser mau para ti Por isso meu amigo não toques no monolito em que eu andei a escrever

about

Bicho com mau gosto - é assim que Riça se apresenta dia
27 de Novembro com o seu EP de estreia, lançado no canal
de Youtube da Microfome. Em oito faixas, o rapper de Gandra
(Paredes) leva-nos por vários cenários que marcaram (e que
ainda marcam) a sua identidade, não só como artista mas
também como pessoa - os receios comuns a qualquer indivíduo,
a frustração e o prazer dum jovem criativo e as suas influências
culturais (da música ao cinema).

A 25 de Abril, a “Punhos no Ar!” - uma das músicas deste EP
- foi lançada com um videoclip no qual se quis saudar toda a
gente (e em especial um grupo específico de pessoas) que luta
diariamente pela liberdade, dignidade humana e por melhores
condições de vida - no fundo, por um futuro sustentável e
optimista.

credits

released November 27, 2016

Para além de algumas produções suas, Riça conta ainda com
as participações de Kass (G821), DJ SirCyber e Lazy (ambos do
colectivo Corja Crew), Antiq (Microfome) e Extremista. Lazy foi
também responsável pela produção, captação e mistura deste
trabalho - masterizado ainda pelo rapper/produtor José ‘Kap’
Poças (Biruta) e entregue à imaginação plástica da Mariana
Malhão.

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